sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O projecto de São Domingos

Domingos de Guzman era cónego na Catedral da diocese de Osma, em Castela, quando no princípio do século XIII se viu envolvido numa viagem pela Europa, a qual lhe facultou as circunstâncias para a fundação da Ordem dos Pregadores.
 
Domingos tinha cerca de trinta anos quando teve que acompanhar o seu bispo Diego de Osma numa missão diplomática para assegurar o casamento de uma princesa do norte da Europa com um príncipe da Coroa de Castela.
É nesta viagem, entre o ir e o regressar, que São Domingos se encontra no Midi francês com a heresia dos Cátaros, um grupo numeroso e influente de homens e mulheres que tentam viver de forma radical o Evangelho.
Abandonados a si mesmos por um clero encerrado nas grandes abadias, e na sua maioria inculto e arrogante, estes homens e mulheres tentam na sua simplicidade viver o Evangelho como as primitivas comunidades cristãs, numa linha radical que se afasta da verdadeira fé.
Diante de tal fenómeno São Domingos pergunta-se sobre a salvação daquelas almas, sobre a possibilidade de conversão e regresso ao seio da Igreja e da verdadeira fé. Nasce assim o fundamento mais profundo do projecto de pregação de Domingos e da Ordem dos Pregadores, a salvação das almas.
Não nos estranha por isso que mais tarde, quando já tinha irmãos a colaborar na sua missão, durante a noite esses mesmos irmãos o escutassem a rezar junto do altar, “Senhor que será dos pecadores?”.
Para responder a esta pergunta e desafio São Domingos instala-se perto de Carcassone, numa pequena aldeia chamada Fanjeaux, a partir da qual percorre as aldeias e cidades vizinhas anunciando a verdade do Evangelho, participando em debastes e disputas com os hereges cátaros sobre os caminhos de fidelidade ao Evangelho.
Tal missão obriga-o ao estudo atento da Palavra da Escritura, pelo que a partir de determinado momento sabe já de memória o Evangelho de São Mateus e as Cartas de São Paulo, que sempre o acompanharam durante a sua vida. Contudo, não basta conhecer a Palavra.
Face à radicalidade de vida dos Cátaros, São Domingos opta por viver tão pobre e radicalmente como eles, assumindo que o exemplo move mais que as palavras, que a sua pobreza pode ser interpelativa na sua radicalidade. Nasce assim uma unidade, uma simbiose que vai marcar a identidade dominicana e a sua pregação, a palavra orienta o exemplo e o exemplo confirma a palavra.
Não podemos esquecer no entanto que todas as heresias e movimentos espirituais que se desviaram da verdade da fé comportam e assentam numa parte dessa mesma verdade, pelo que se torna necessário conhecer o falso e o errado para que se possa converter e conduzir à verdade.
Tal como há oitocentos anos, também hoje o cristão e o dominicano necessitam viver essa exigência de conhecer e perceber as ideias e movimentos do mundo. Necessitamos discernir onde se joga a verdade e a falsidade para podermos dizer alguma coisa, para podermos oferecer alguma luz que conduza à salvação das almas.
Tal processo e discernimento, tal oferta aos homens e mulheres nossos irmãos, não pode contudo perder o equilibro harmonioso entre a verdade e a caridade, não pode esquecer que o amor só existe sem medida na medida da verdade plena.   
Ilustração: Muralhas e Castelo de Carcassone, França.

1 comentário:

  1. Hoje, como no tempo de Nosso Pai S. Domingos, é preciso conduzir os Homens à Verdade, distinguindo o certo do errado.Daí, a necessidade do estudo que alimenta a palavra. Mas esta,tem que ser vivida e testemunhada,pela oração e não só... Ir. Teresa,O.P.

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