quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O fundador São Domingos de Guzman

Um dia desta semana, conversando com uma amiga irmã dominicana, trocávamos comentários sobre a forma como São Domingos, o fundador da Ordem dos Pregadores, nos tinha sido apresentado.

Para essa amiga, já com bodas de ouro de vida consagrada cumpridas, perdura na memória a imagem de um São Domingos austero, um São Domingos marcado pelos exercícios de ascese, um São Domingos de alguma forma distante, frio, impessoal, compaginada com uma outra imagem mais piedosa e romântica, mas igualmente destorcida na medida em que dissimula ou esconde a pessoa com as suas limitações e fraquezas.

Para esta imagem e os seus contornos contribuiu enormemente a “Vida de São Domingos”, que o Padre Lacordaire escreveu em pleno século dezanove, quando se lançava no desafio de restaurar a Ordem em França, e que foi manual de formação dominicana para muitas gerações de irmãos e irmãs.

Ali podemos encontrar um São Domingos e uma vida que são impulsionados desde o primeiro momento por uma ideia visionária, por uma grande genialidade, em que as dúvidas, os problemas não existem, pois desde o primeiro momento, poderíamos dizer desde o nascimento, tudo se coordena e orienta para a prossecução do fim último, a fundação de uma grande Ordem religiosa ao serviço da Igreja e da verdade da Doutrina da Fé.

Como filho de São Domingos do século vinte e um, a imagem que recebi de São Domingos distancia-se bastante da apresentada pelo Padre Lacordaire e da que a minha querida irmã recebeu na sua formação inicial.

De facto, as histórias de São Domingos que li, que me foi dado conhecer, a começar pela monumental e historicamente fundamentada do Padre Vicaire, são histórias em que a pessoa humana de Domingos de Guzman não é escondida, em que não há qualquer medo nem problema em assumir que o projecto da Ordem foi algo que foi crescendo com o tempo e face às circunstâncias, umas favoráveis, outras adversas.

Diante destas histórias, destas vidas, em que se assume a vida com toda a sua grandeza e miséria, em que se percebe a pedagogia divina em paralelo com a força criativa do homem face aos desafios que se lhe colocam, sentimos que também nós podemos avançar e arriscar uma resposta no seguimento de Jesus.

Afinal o nosso fundador, os fundadores de qualquer Ordem ou Congregação, são homens e mulheres como nós, tiveram também os seus medos, as suas dúvidas, foram crescendo tacteando uma resposta à medida que a graça de Deus ia agindo neles e eles se iam deixando trabalhar por ela.

Com eles e como eles também nós podemos fazer o mesmo. Está ao nosso alcance!


Ilustração: “São Domingos”, fresco de Fra Angélico no Convento de São Marcos em Florença.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Ainda em jeito de apresentação


Perguntas-me, Caro Amigo, se não tenho já muito que fazer, se o tempo não me falta para as diversas coisas que tenho já entre mãos e todas as responsabilidades inerentes aos diversos cargos que desempenho dentro e fora do convento.

Honestamente devo responder-te que sim, mas igualmente tenho que responder-te que me sinto no dever de avançar para este projecto, para esta missão, como a considero, por fidelidade à minha própria vocação e ao que me apaixonou ser dominicano.

Fazendo minhas as palavras do frère Thierry, um frade dominicano francês, passada a barreira dos quarenta anos, no meu caso quase a atingir os quarenta e cinco, concedo-me a ilusão de acreditar que se pode começar a escrever o que se pensa, ainda que por esta idade e no conjunto da Igreja a ocupação de cargos, ou a sua pretensão, conduza a um mutismo justificado com a virtude da caridade e da responsabilidade e, o que é menos louvável, pelo desejo de não desapontar nem perder as oportunidades de carreira.

Porque somos membros de uma Ordem Religiosa cujo estandarte é a “Verdade”, proponho-me a uma palavra livre e fiel à vocação de que quero falar, uma palavra que desperte o amor por ela, ou, no mínimo, um conjunto de questões que inquietem e apelem a uma resposta. Será portanto uma proposta vocacional dominicana, mas também, e sobretudo, uma proposta que me compromete pessoalmente enquanto agente dessa vocação.

Neste sentido procurarei evidenciar o que são os chamados “pilares” da Ordem, os elementos que estruturaram a vida dominicana ao longo dos quase oito séculos da sua existência, assim como os modos e carismas pessoais, e que fazem ainda hoje do ecossistema dominicano uma vocação no coração da Igreja e para a salvação das almas.

E se os discursos e realizações que se apresentam como modernos e actuais envelhecem depressa, temos o dever de olhar e acolher aqueles que perduraram no tempo e hoje nos podem servir ainda de garantia de futuro.

Ilustração: Dominicano entre portas do Convento São Domingos de Bolonha

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Apresentação


Quem conhece a vocação dominicana?
Quem sabe o que significa ser dominicano, frade pregador, filho de São Domingos?
 
Certamente pouca gente, assim como são poucos os que conhecem São Domingos, a sua vida, e a importância que teve para a Igreja a Ordem dos Pregadores por ele fundada.



Ao contrário do seu contemporâneo São Francisco de Assis,  que é bastante popular e conhecido, São Domingos nunca foi muito conhecido e quando se fala dele é pela inevitável ligação à inquisição, que o reclamou como fundador ainda que ele nunca a tivesse fundado.


Face a esta realidade, podemos dizer que a culpa é nossa, que os pregadores filhos de São Domingos, ainda que creditados com um verbo brilhante para anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo, nunca tiveram muito jeito para falar de si próprios, para comunicar os valores espirituais que estruturam a sua vida e definem a especificidade do carisma da Ordem dos Pregadores. 
 
Com o que comporta de subjectividade e de paixão, de um idealismo que muitas vezes esbarra na realidade, este projecto digital cibernético procura esboçar uma resposta, uma apresentação do carisma e do ideal, bem como a pertinência da vocação dominicana no contexto actual da vida social e da Igreja.
 
Esperamos e desejamos que esta apresentação, este anúncio de um caminho de felicidade, ajude a discernir a resposta que Deus espera dos jovens que chama a servir a Boa Nova do Reino de Jesus no espirito e nos passos de São Domingos de Guzman nosso Pai e Fundador.
 
Ilustração: Vitral com a imagem de São Domingos.