Por mais estranho que pareça, a verdade é que a Ordem dos
Pregadores, os dominicanos, começaram com um grupo feminino, um grupo que não
tem direito a pregar nem a exercer nenhum apostolado activo, mas que se tornou,
apesar disso, fundamental para a Ordem.
Ainda que a tradição nos diga que a fundação do Mosteiro de
Prouilhe se deva à visão de uma estrela por parte de São Domingos sobre o lugar
onde deveria ocorrer a fundação, a verdade histórica é que a sua fundação se deveu
uma vez mais às circunstâncias do momento.
São Domingos não tinha nenhum projecto de fundação monástica,
a mobilidade e a liberdade de acção eram o seu quotidiano, mas o facto de
algumas mulheres convertidas da heresia necessitarem de um lugar onde
sobreviverem obrigou-o a encontrar-lhes esse lugar e uma forma estável de vida.
São o primeiro grupo, que encerrado nas paredes de um mosteiro,
isolado do mundo por umas grades, dá início ao ministério da pregação. É a casa
da “Santa Pregação”, onde mais que a palavra são o exemplo e o testemunho que
pregam, onde o silêncio dá origem à palavra que brota na boca dos pregadores.
Ainda que posteriormente a história nos diga que muitas
mulheres foram obrigadas a ir para a clausura dos mosteiros contra a sua
vontade, que tenham sido retiradas do mundo pelos seus familiares como castigo,
as grades e a clausura que esta forma de vida assumia não eram uma condenação
nem um impedimento à saída, mas uma protecção contra os intrusos e as agressões,
uma salvaguarda do estilo de vida que se assumia.
Ao iniciar-se desta forma a Ordem dos Pregadores, Deus
mostra-nos que a pregação é precedida pelo silêncio e pela contemplação, que a
palavra pregada só pode ser eficaz na medida em que nasce nesse ambiente salvaguardado
dos ataques do mundo.
Ainda hoje muitas irmãs dominicanas vivem em mosteiros de
clausura, e a partir dali exercem a sua pregação através do silêncio, da escuta
da Palavra, da oração pessoal e comunitária, na qual não só pedem por aqueles
que se lhes encomendam mas também pelos irmãos pregadores, pela palavra que
brota das suas bocas.
Passados oitocentos anos sobre a fundação do primeiro
mosteiro, hoje como nessa longínqua data, continuamos a necessitar de silêncio,
de espaços de contemplação para nos encontrarmos com a Palavra, e de irmãs que
intercedam junto de Deus pelo apostolado dos pregadores.
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