domingo, 3 de fevereiro de 2013

Desfrutar da missão a que somos enviados

Em 2009, o dominicano espanhol Felicíssimo Martinez, proferiu uma palestra aos membros do Capítulo da Província do Santíssimo Rosário, reunido em Hong Kong para a eleição de Prior Provincial, sobre a qualidade de vida a que estamos chamados a ter enquanto religiosos.

Os últimos parágrafos são dedicados à satisfação, à alegria pessoal, à necessidade de se desfrutar da missão a que somos chamados, pois só dessa forma podemos servir verdadeiramente os irmãos e glorificar a Deus. Pela importância dessa satisfação como elemento de discernimento deixo aqui esses parágrafos.
Sendo eu estudante ouvi dizer a um professor: “eu só prego quando me manda o prior”. Não é que me tivesse escandalizado de todo, mas alguma coisa me escandalizou, porque não podia compreender que isto fosse dito por um membro da Ordem dos Pregadores. Que teria dito Humberto de Romans deste religioso?
A conclusão que tiro hoje, depois de muitos anos na Ordem e na Província, é que para aquele religioso a missão da pregação era uma carga, um peso, uma penitência, uma obrigação imposta…
Pois bem, eu acredito que para que a missão forme parte da nossa qualidade de vida, para que nos proporcione satisfação pessoal, apesar do cansaço, da rejeição, da frustração que às vezes traz consigo, é necessário aprender a desfrutar da missão.
Não basta a satisfação pessoal da missão cumprida, é necessário também aprender a desfrutar da missão, e isto em dois sentidos:
1 – Aprender a desfrutar das relações curtas, como ver as crianças a crescer e a amadurecer num colégio, como ver os fiéis a crescer cristãmente numa comunidade paroquial, como ver uma pessoa encontrar sentido para a vida através das nossas palavras ou da nossa simples presença, como ver um casal que recompõe a sua relação graças ao nosso acompanhamento…
Isto é aprender a desfrutar da missão, mas para tal necessitamos reeducar-nos na afectividade e no celibato, e não fazer deste uma muralha defensiva face a qualquer afecto humano ou para nos livrarmos do sofrimento.
2 – Aprender a desfrutar também as relações largas, ou seja, esses trabalhos realizados a fundo perdido, do quais nem sequer sabemos quem beneficiará, pelos quais nunca ninguém nos virá agradecer… mas que estão aí, como por exemplo, a luta pela justiça e pela paz, pelos direitos humanos no mundo, o exercício do governo da vida religiosa, um livro que não sabemos a quem irá beneficiar.
Graças a uma missão realizada e desfrutada podemos dizer ao fim dos nossos dias: “não foi inútil Senhor a nossa vida sobre a terra”.

Ilustração: Dominicanos do Convento de São Domingos de Bolonha em oração.

1 comentário:

  1. Obrigada pelas palavras do Frei Felicissimo Martinez. São uma mensagem de vida. Ir.Teresa,O.P.

    ResponderEliminar