Em 2009, o dominicano espanhol Felicíssimo Martinez, proferiu
uma palestra aos membros do Capítulo da Província do Santíssimo Rosário,
reunido em Hong Kong para a eleição de Prior Provincial, sobre a qualidade de
vida a que estamos chamados a ter enquanto religiosos.
Os últimos parágrafos são dedicados à satisfação, à alegria
pessoal, à necessidade de se desfrutar da missão a que somos chamados, pois só
dessa forma podemos servir verdadeiramente os irmãos e glorificar a Deus. Pela importância
dessa satisfação como elemento de discernimento deixo aqui esses parágrafos.
Sendo eu estudante ouvi dizer a um professor: “eu só prego
quando me manda o prior”. Não é que me tivesse escandalizado de todo, mas
alguma coisa me escandalizou, porque não podia compreender que isto fosse dito
por um membro da Ordem dos Pregadores. Que teria dito Humberto de Romans deste
religioso?
A conclusão que tiro hoje, depois de muitos anos na Ordem e
na Província, é que para aquele religioso a missão da pregação era uma carga,
um peso, uma penitência, uma obrigação imposta…
Pois bem, eu acredito que para que a missão forme parte da
nossa qualidade de vida, para que nos proporcione satisfação pessoal, apesar do
cansaço, da rejeição, da frustração que às vezes traz consigo, é necessário
aprender a desfrutar da missão.
Não basta a satisfação pessoal da missão cumprida, é
necessário também aprender a desfrutar da missão, e isto em dois sentidos:
1 – Aprender a desfrutar das relações curtas, como ver as
crianças a crescer e a amadurecer num colégio, como ver os fiéis a crescer
cristãmente numa comunidade paroquial, como ver uma pessoa encontrar sentido
para a vida através das nossas palavras ou da nossa simples presença, como ver
um casal que recompõe a sua relação graças ao nosso acompanhamento…
Isto é aprender a desfrutar da missão, mas para tal
necessitamos reeducar-nos na afectividade e no celibato, e não fazer deste uma
muralha defensiva face a qualquer afecto humano ou para nos livrarmos do
sofrimento.
2 – Aprender a desfrutar também as relações largas, ou seja,
esses trabalhos realizados a fundo perdido, do quais nem sequer sabemos quem
beneficiará, pelos quais nunca ninguém nos virá agradecer… mas que estão aí,
como por exemplo, a luta pela justiça e pela paz, pelos direitos humanos no
mundo, o exercício do governo da vida religiosa, um livro que não sabemos a
quem irá beneficiar.
Graças a uma missão realizada e desfrutada podemos dizer ao
fim dos nossos dias: “não foi inútil Senhor a nossa vida sobre a terra”.
Ilustração: Dominicanos do Convento de São Domingos de
Bolonha em oração.
Obrigada pelas palavras do Frei Felicissimo Martinez. São uma mensagem de vida. Ir.Teresa,O.P.
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